Familia Kamiya

Ketsusaburo e Kana Kamiya

Texto de Yukihide Kanashiro

Ketsusaburo e Kana Kamiya 1
Ketsusaburo e Kana Kamiya

      Na fase inicial da imigração japonesa no Brasil, os imigrantes japoneses foram contratados como solução para suprir a falta de mão de obra nas lavouras de café, após o próprio governo italiano de proibir o envio de imigrantes de seu pais ao Brasil, medida adotada após sucessivas denúncias de maus tratos, exploração e desrespeito nas relações de trabalhos , e também de toda ordem, por parte de fazendeiros brasileiros aos imigrantes italianos. Os fazendeiros ainda estavam culturalmente e socialmente acostumados com a mão de obra escrava. É neste contexto que os primeiros imigrantes japoneses são inseridos no Brasil, atraídos por propagandas de imigração que ensejavam sucesso e realizações na época. Porém, assim como ocorrido com os imigrantes italianos, a história voltava a se repetir, desta vez com os trabalhadores japoneses.

      Além das grandes frustrações nas fazendas de café, os imigrantes pioneiros encontraram desafios por nós inimagináveis, em decorrência de sua cor de pele, idioma, costumes, religião, organização social , hábitos diários, e e higiene, cultura e valores, tudo radicalmente oposto aos padrões brasileiros, por isso, sofreram grande preconceito. Quanto o vapor “Sanuki Maru” atracou no porto da cidade de Santos, em 26 de outubro de 1918, desembarcaram centenas de imigrantes japoneses, todos com o sonho de fazer riqueza rápida, através de muito trabalho, e depois retornar ao país de origem. É neste cenário que Ketsusaburo. 36 anos e Kana Kamiya, 36 anos , acompanhados da filha mais velha Kamado, de 14 anos, desembarcaram provenientes da província de Okinawa. Era apenas o início de sua saga em terras brasileiras.

      Do Porto de Santos a família se dirigiu a capital paulista, de onde partiria, via Estrada de Ferro de Sorocaba, rumo à região compreendida entre Sorocaba e Itatinga, cumprindo então um contrato de dois anos nas fazendas paulistas. Durante este período, em 1919, na cidade de Itatinga, nasce Chuei, o primeiro filho do casal nascido em terras brasileiras.

      Após o cumprimento do contrato decidem abandonar as fazendas de café, sendo atraídos pelo fomento do governo paulista, criado a partir de 1980 para a exploração de áreas do extremo norte da capital paulista, na região da Serra da Cantareira, área compreendida entre as antigas terras da Família Alcântara Machado ,conhecida como Fazenda Santa Maria, e áreas pertencentes a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

      Em 1919, a Família fixava se em uma área conhecido como Sítio do Moinho, passando a explorar esta região de mata e elevada precariedade, para a agricultura familiar. Esta exploração se configura como atuação pioneira da família de Ketsusaburo e Kana na região. Com o passar do tempo, a região passa a se chamar Sítio Campo Limpo, atraído novos imigrantes japoneses e portugueses dispostos a compartilhar o mesmo sonho de vida. É nesta região que nascem seus filhos caçulas Kilitaro em 1924, e Maria em 1926. Através de muito trabalho e o estabelecimento da família na região, passaram a chamar os demais filhos que haviam permanecido em Okinawa por ocasião da imigração. Em 1925 chega então o seu filho mais velho Ushikichi e o segundo filho Eisuke, seguido por Eikichi em 1932. Como sonho de qualquer mãe, a família passa a permanecer completa novamente e passa a adotar o Brasil como nova pátria. Nesta terra, todos os seus filhos se casam, passando a perpetuar o gigantismo profícuo do casal. Transcorridos cem anos, após a sua chegada, já são mais de duzentos descendentes.

      É digno de nota de bravura, o pioneirismo e as grandes realizações deste casal e sua família, o que nos enche de muito orgulho e grande honra. Completar o centenário é sem dúvida, motivo de muita alegria e comemoração. celebrar este centenário é relembrar a grande saga daqueles que muito se sacrificaram para que possamos estar aqui hoje, a quem devemos grande reverência, profundo respeito e gratidão. Também é reforçar ainda mais o nosso vínculo de sangue, de coração e de espírito. É saber que somo todos uma grande família.